Nos dias de hoje, é muito comum encontrarmos pessoas utilizando óleo de peixe com o propósito de saúde e buscando benefícios associados ao esporte. Um dos apelos mais expressivos, é a utilização para a saúde cardiovascular, mas cada vez mais, existe interesse na aplicação de óleo de peixe como agente preventivo contra dores musculares e como tratamento adjuvante pós-lesão. No entanto, grupos de especialistas, como o Comitê Olímpico Internacional e o Colégio Americano de Medicina Esportiva, alegam que a suplementação com óleo de peixe não apresenta benefício tão claro para todo e qualquer esporte.

O óleo de peixe é formado especialmente por ômega-3, uma família de lipídios que são essenciais para o organismo humano. Vale observar que os principais tipos de ômega-3 são: EPA (ácido graxo eicosapentaenoico) e DHA (ácido graxo docosahexaenoico). Fontes dietéticas de DHA e EPA são peixes gordurosos, como salmão, atum e sardinha, e mariscos, como mexilhões, ostras e caranguejos. Ainda, quando o foco é saúde cardiovascular, o EPA recebe destaque, já para gestantes e bebês o DHA tem função principal na função neural e ocular. 

Um dos efeitos mais comprovados dos ácidos graxos ômega-3 é a redução dos níveis de triglicerídeos plasmáticos, gerando eficácia para pacientes que apresentam hipertrigliceridemia. No caso de indivíduos que apresentam esteatose hepática, a suplementação de ômega-3 causa efeito importante na redução da inflamação presente neste órgão e seu uso deve ser incentivado. Esse suplemento também pode causar uma redução modesta na pressão arterial em indivíduos com pressão alta, ajudam a aliviar os sintomas da artrite reumatoide, retardam a progressão da degeneração macular relacionada à idade, assim como apresenta efeitos positivos e consistentes na cognição e humor. Mas para a maioria das demais condições clínicas para as quais os suplementos de ômega-3 foram estudados, as evidências são inconclusivas ou não indicam que o ômega-3 é benéfico.

Para gestantes, o consumo de DHA é fundamental e reconhecido por diversas sociedades nacionais e internacionais de obstetrícia e ginecologia, que recomendam o uso de pelo menos 200 mg de DHA ao longo da gestação e lactação. Para bebês até 3 anos de idade, o consumo de DHA também é importante. Assim, a suplementação de óleo de peixe deve ser feita. Caso a gestante seja vegana, também existem ótimas opções de suplementos de DHA vegetal.

Já em relação ao exercício físico, o óleo de peixe atenua as respostas celulares pró-inflamatórias que decorrem do treinamento, especialmente os de alta intensidade. Mas por outro lado, nenhum benefício foi observado no desempenho para a musculação, sem melhorias nas adaptações ao treinamento, força muscular ou função pulmonar. Estudos foram feitos para avaliar a taxa de produção de proteínas musculares após o estímulo do treinamento, em voluntários que consumiram ômega-3, porém a suplementação falhou ao gerar resposta e não conferiu nenhuma vantagem anabólica muscular. 

Outra questão fundamental é a qualidade do suplemento e a quantidade presente de EPA e DHA em cada marca. Por isso, a segurança contra contaminação dos metais pesados pode ser identificada por alguns selos (IFOS, MEG3). Ainda, a embalagem deve ser elaborada para não incidir a luz, por isso, não deve ser totalmente transparente e costuma ter cor verde, azul, branca e até mesmo preta. Já em relação à quantidade de EPA e DHA, deve ser avaliada na tabela nutricional fixada no rótulo, onde sugiro que estejam pelo menos em 60% da cápsula. Ou seja, em 1 cápsula de 1 grama, a somatória de EPA e DHA deve ser pelo menos 600 mg. Dessa forma, caso seja viável o uso do ômega-3, é possível ter segurança na escolha da marca.

Observe que o ômega-3 pode ter funções interessantes e sua suplementação é importante para vários indivíduos, mas isso não significa que terá comprovação científica e eficácia em toda e qualquer situação. Portanto, a cautela é necessária, para que assim, a suplementação seja feita de acordo com a necessidade individual.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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