Já falamos em nossa primeira matéria da série “corrida” que o número de atletas que estão nas ruas, sem qualquer tipo de assessoria ou acompanhamento clínico, aumenta dia após dia. O que é maravilhoso por um lado, já que é um super incentivo ao esporte e ao combate ao sedentarismo; mas o que, por outro lado, pode continuar a expor mais pessoas a lesões que atingem os corredores.

Acompanho esse movimento da perspectiva de quem está do outro lado da mesa de consultório na rotina clínica, observando um aumento de pessoas que nos procuram na fisioterapia com lesões relacionadas à prática. Na nossa primeira matéria, fizemos o en passant sobre correr e muita gente nos trouxe o feedback de que se surpreendeu que as lesões podem afetar de forma diferente as mulheres e os homens corredores. Vale dizer que a especificidade em relação ao sexo se estende também às minúcias de cada corpo –isso conta também para  a idade, o nível de aptidão física, o tipo de corrida de curta ou longa distância etc. Sabemos na literatura que, para ultramaratonistas, por exemplo, há uma maior incidência de lesões no tornozelo. Enquanto que estudos recentes mostraram que joelhos, pernas, pés e coluna são as áreas que mais sofrem em corredores comuns. Na nossa prática clínica como fisioterapeutas, de fato, são esses os casos que mais surgem.

Para trazer mais dados da rotina real a partir de uma perspectiva de quem sua a camisa correndo, chamamos o médico ortopedista Dr. Caio Cesar Fortuna, maratonista, para trazer uma explicação didática das lesões que mais podem afetar os amantes da corrida. Segundo o médico, podemos dividir as lesões no esporte didaticamente em 2 grandes grupos:

  • As lesões traumáticas, decorrentes de “pancadas” e entorses (por exemplo: rupturas ligamentares e contusões);
  • e as lesões por sobrecarga (overuse), que são aquelas que ocorrem de mecanismos repetitivos de estresse (por exemplo: fraturas por estresse e tendinites).

No caso da corrida, as lesões mais comuns são as lesões por sobrecarga, como a fascite plantar (ou dor da sola do pé, tendinite do calcâneo, síndrome do estresse tibial medial), a canelite, a condromalácia (ou dor chata no joelho), lombalgia (ou dor na coluna lombar), fratura por estresse, pubalgia (ou dor em torno da região do púbis) etc.

Um dado que sempre reforçamos na rotina aos amantes da corrida é que que as lesões em corredores têm causas que se alinham e se sobrepõem, por isso, para ser tratada adequadamente, devem ser revistos os fatores que influenciam a dor ou lesão:   

  • Overuse ou overtraining. Excesso de treino ou intensidade (não descansar para recuperar).
  • Falta de força das musculaturas. Sem músculos fortes e estáveis, você sobrecarrega com o peso nas articulações, que sofrem demais com o impacto.
  • Desalinhamento biomecânico. A má postura aumenta o risco de se machucar na corrida.
  • Encurtamento muscular das pernas. Não é só falta de força, mas ter pouca mobilidade pode levar a lesões importantes!
  • Instabilidade do corpo. Não fazer o fortalecimento do core, ter articulações instáveis, tudo isso se soma e gera compensações durante a corrida. Há grandes chances de se lesionar.

“E eu posso correr mesmo com dor?” 

Essa pergunta é de praxe para nós, fisioterapeutas, mas principalmente para aquela consulta inicial aos nossos colegas médicos ortopedistas. E vamos com a resposta médica do especialista para dar o pontapé inicial: DEPENDE.

Todas as pessoas que fazem atividades físicas, inclusive corridas, estão sujeitas a terem uma dor ou outra. E nem sempre essa dor significa que há uma lesão. Podemos ter dores musculares tardias pelo próprio esforço físico realizado em um corpo sem o preparo adequado, decorrentes de uma atividade física intensa ou dores por lesões. Por isso, é super importante conhecer seu corpo, seus limites e suas queixas. Na dúvida, interrompa a atividade e procure um ortopedista ou médico do esporte. 

Ainda, batendo o martelo para toda orientação médica, complementamos com a nossa visão fisioterapêutica, e orientando que, cada um de nós possui um nível de tolerância à dor, e muitos atletas podem ter um limiar alto a ponto de persistirem no esporte por amor e medo de perder a prática. Então, não subestime o que você sente e avalie para que não tenha que parar sua prática esportiva por um problema que pode se tornar maior, certo?

Lembre-se que problemas pequenos  podem se tornar maiores, e se estenderem a ponto de se tornarem crônicos. O problema que nem o médico e nem a fisioterapeuta esportiva e ortopédica desejam aos pacientes corredores é suspender a prática. Para que não chegue a esse ponto, sempre reforçamos que caso a causa da dor do corredor  não seja devidamente ajustada, as dores podem, sim, afastá-lo da corrida. Por isso, se atente ao treino, siga orientação profissional e treine para que a corrida seja o esporte da sua vida! 

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*Colaboração do Dr. Caio Cesar Fortuna, Ortopedista no HCor e Traumatologista com Especialização em tratamentos de doenças que acometem o joelho. (CRM/SP: 134406)

**O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

***Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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