Certamente você conhece ou até mesmo convive com uma mulher na menopausa que já reclamou de calores ou outros sintomas –isso se você não for uma delas. Os fogachos, que são aquelas ondas de calor que as mulheres sentem na menopausa, chegam a acometer até 80% delas, em diferentes intensidades, e em algumas podem durar por décadas. Costumam começar de forma mais irregular e leve no climatério, que é a fase que antecede a menopausa propriamente dita. E esse é apenas um de vários sintomas e mudanças físicas que ocorrem.

Mas afinal, porque eles ocorrem?

A menopausa é a parada completa da menstruação por falência dos ovários, que em determinado ponto da vida da mulher param de funcionar. Essa parada não representa apenas a impossibilidade de engravidar e a ausência de menstruação, mas também uma diminuição muito grande na produção de estrogênios, que são responsáveis por diversas funções no corpo da mulher. Quanto aos calores, que são o sintoma mais frequente, a queda do estrogênio leva a uma alteração nos controles cerebrais de temperatura. E como o exercício físico interfere nisso?

Na verdade esse mecanismo ainda não é totalmente conhecido, mas alguns estudos científicos demonstraram que o exercício resistido, aquele que é feito com cargas, como a musculação, são capazes de diminuir a intensidade dos calores em até 43%.

Se a melhora dos fogachos não for motivo suficiente para prática regular de exercícios físicos, vamos falar de outras alterações que ocorrem na menopausa.

A queda hormonal também é responsável por uma mudança no metabolismo e na maneira como as mulheres armazenam e distribuem gordura pelo corpo. O que antes normalmente se acumulava no quadril e nas coxas, passa a ser mais central, com preferência pela barriga e braços. Esse padrão de acúmulo mais parecido com o masculino tem relação direta com o aumento do risco de doenças cardiovasculares. Sabemos que o estrogênio é um fator protetor para mulheres antes da menopausa, por isso é tão raro elas infartarem na casa dos 40 aos 50 anos.  Já na menopausa, esse risco se iguala ao dos homens, sendo até maior em alguns estudos.

Outra queixa frequente são as oscilações de humor que ocorrem na menopausa, justamente pelas quedas hormonais, que ficam ainda piores quando são acompanhadas dos calores. A atividade física também ajuda a melhorar o humor —já fiz um texto aqui sobre isso.

Algumas mulheres passam ainda por diminuição da libido nessa fase, o que chamamos de transtorno do desejo sexual hipoativo, não necessariamente por causa dos hormônios, mas por toda a mudança que acaba levando muitas vezes a uma diminuição da autoestima, somada às oscilações de humor e aos fogachos. Já é comprovado que mulheres fisicamente ativas na menopausa têm muito menos queixas sexuais, e ainda, menos problemas psicológicos e questões relacionadas à autoestima.

Quando falamos de saúde como um todo, algumas mudanças na menopausa podem ser silenciosas. Uma delas é o risco de doenças cardiovasculares que já mencionei, mas não podemos esquecer da osteoporose, que é a diminuição da densidade dos ossos, aumentando muito o risco de fraturas, principalmente na bacia. Os estrogênios têm um papel importantíssimo na densidade dos ossos das mulheres, e é justamente a sua falta que pode levar à osteoporose. A prática regular de exercícios físicos é capaz de impedir a osteoporose ou até melhorar a densidade dos ossos. 

Se for para falarmos de outros benefícios de praticar exercícios na menopausa, a lista vai ficar enorme, e vai incluir entre outras coisas: diminuição de risco de câncer de mama, câncer de útero e de intestino, diabetes, varizes, doenças neurológicas e mais. 

Pronto, já temos motivos de sobra para implementar uma mudança na rotina, que pode ser difícil no começo, mas que certamente ficará mais fácil com o tempo e com as melhorias que serão percebidas nos sintomas.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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