O intuito da matéria de hoje é trazer um olhar para a felicidade como um processo dependente de construção e não encontrada como um lugar fixo a ser atingido. Ficou muito vago e meio subjetivo? Calma, que irei te ajudar.

Que tal começarmos com o conceito do que é a tal da felicidade? A definição passa por emoções como: satisfação, contentamento, esperança e confiança. O ser humano busca, de forma direta ou indireta, o que considera felicidade, bem-estar e senso de propósito. Quem nunca: “Ah, no dia que eu ganhar tanto, vou ser mais feliz” ou ainda “Quando eu me casar, aí sim serei feliz”. A tendência do ser humano é projetar a felicidade unicamente ao externo e ser evento-dependente. E, claramente, quando a gente projeta o ser feliz, nesse lugar de conquistar e depender de coisas externas, nos frustramos e esquecemos do que é essencial.

Quando o simples é o essencial 

Não há como ser saudável sem se sentir bem e se perceber feliz. Essa pauta de felicidade se relaciona 100% com a sua saúde. Para embasar melhor, trago dados que revelam que pessoas que se dizem mais felizes, vivem mais. Há diversos estudos que se dedicam a pesquisar a forma que o cérebro dessas pessoas funciona, os hábitos e comportamentos associados a esse grupo que se sente mais feliz.  

Antes de começar, vou compartilhar um relato pessoal que você também pode se identificar. Há 3 anos, senti uma necessidade absurda de entender mais sobre o tema. Motivos não faltaram, pois havia um contexto pandêmico –vivenciando níveis de ansiedade sem precedentes, medo e isolamento social que “permitiu” –eu deveria dizer “obrigou” – a entrar mais em contato consigo.

Busquei ferramentas para cuidar da saúde das pessoas da Clínica, da família e, em especial, da minha própria saúde. Deparei-me com um curso de Well-Being e resolvi me inscrever. Ele foi realizado pela Yale University, The Science of Well-Being, e ministrado pela PhD Laurie Santos –ela tem um popular podcast The Happiness Lab que indico a todos! As aulas se tornaram um afago de conhecimento e me permitiram experienciar o que fazia sentido inserir na minha própria rotina. Hoje resgato anotações como se fossem pílulas de bem-estar para compartilhar com vocês.

Cientistas apontam que há uma capacidade inata para a tal da felicidade

Será que a sua capacidade de sentir a felicidade é pré-determinada pela genética? A ciência se dedica a entender como podemos modular a felicidade e o bem-estar. Há uma linha de pesquisadores que partem do pressuposto  de que a capacidade de se sentir feliz é sim determinada geneticamente. No entanto, não há determinismo genético para a infelicidade, sabe-se que há fatores modificáveis supervaliosos para o ser humano sentir o bem-estar. Atualmente sabemos que a percepção de bem-estar é o resultado de um conjunto de parâmetros individuais que podem ser modificáveis ou não, sendo que o estilo de vida é considerado um fator influenciador.

De forma geral, cientistas têm em comum trazer alguns pontos para se ter bem-estar em longo prazo e todos envolvem hábitos! Dessa forma, devemos cultivar um estilo de vida moldado por uma rotina saudável e ter uma consistência em atividades tanto físicas quanto mentais. Vou compartilhar um check list de 6 hábitos possíveis na rotina que podem parecer clichê, mas que a ciência comprova trazer impacto positivo para quem deseja ser feliz. São eles:

  • Durma bem. 60% dos brasileiros dormem pouco. Dormir pouco e mal, afeta a imunidade e a capacidade natural que corpo e mente possuem em se recuperar. Já redigi um texto aqui bem completo com dicas que podem te ajudar.
  • Mexa o seu corpo. Não estou pedindo muito, apenas 30 minutinhos de exercícios ao dia. A ciência mostra que se exercitar é um fator de influência modificável para longevidade, saúde cognitiva e psicossocial –como a satisfação e autoestima –, contribuindo para o bem-estar emocional.
  • Utilize técnicas respiratórias. Pesquisas comprovam a diminuição do estresse, modulação do padrão de controle mental e aumento da percepção de satisfação pessoal e felicidade com a inclusão de técnicas respiratórias.  
  • Pratique e queira o bem. Pense em um motivo para agradecer pelo seu dia! Esse é um hábito simples, que é  o de ser grato e compartilhar sua gratidão com os outros. Pesquisas mostram que esses simples pensamentos geram sensações de plenitude e contentamento imediato. Estudos mostram que pessoas que participam de ações de cunho social ou se sentem úteis agindo pelo outro, compartilham sensação de contentamento, bem-estar e satisfação.
  • Quem tem um amigo, tem tudo. A amizade fortalece a sensação de pertencimento, propósito, além de garantir socialização e rede de apoio. Dados científicos garantem que quem tem um amigo, vive mais e melhor.
  • Unfollow em quem não te inspira e te gera frustrações. Entenda que a grama do vizinho não é mais verde. Pare de se comparar com os coleguinhas, principalmente em tempos de redes sociais. Que tal começar com um detox nas suas redes? Vale lembrar que, na internet, o que vemos são recortes perfeitamente selecionados, editados e compartilhados. Foque em estar presente em sua vida real e acredite que é aí que mora a verdadeira felicidade.

Finalizo reforçando que a felicidade e a percepção dela são processos contínuos de construção de hábitos e atitudes mentais. Por isso, não adianta colocar a culpa na genética e também não se responsabilizar por suas escolhas. Consistência é chave para ter sucesso em longo prazo e, por isso, curta o caminho, olhe mais para si e se permita ser feliz e saudável com as ferramentas que possui nesse momento.

Vou deixar o link de acesso de um e-book exclusivo que produzimos na época para você baixar gratuitamente novamente! Nosso convite é um olhar para a felicidade, bem-estar e saúde como processos possíveis.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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